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Segunda-feira, 9h17. Enquanto o café esfria ao lado do teclado, um analista de marketing instala, em trinta segundos, uma VPN gratuita no notebook pessoal com o qual acessa CRM, propostas comerciais e aprova pagamentos, um gesto que parece inofensivo até lembrar que todo o tráfego corporativo acabou de sumir num túnel invisível para a TI.
Foi exatamente isso que o Tech Transparency Project expôs ao rastrear mais de vinte VPNs populares — Turbo VPN, VPN Proxy Master, Snap VPN, entre outras controladas pela chinesa Qihoo 360, empresa sancionada pelos Estados Unidos por vínculos com o exército de Pequim.

A simples presença desses aplicativos na Apple App Store e na Google Play cria uma falsa aura de confiabilidade: o colaborador vê o selo de “app verificado” e conclui que, se está lá, é seguro. Na prática, o modelo de negócio dessas VPNs é o oposto do que prometem, eles capturam, analisam e vendem cada site visitado, cada requisição DNS, cada credencial em trânsito.
Quando essa “proteção” cruza a política Bring Your Own Device, nasce um buraco negro que fura firewalls, proxies e DLPs, exporta dados pessoais para datacenters na China, viola a LGPD no artigo 33 e ainda abre um canal para malware e exfiltração de segredos. Ao longo deste artigo, você irá descobrir quem lucra com a VPN gratuita e por que os seus dados pagam a conta, como o BYOD transforma um clique em backdoor corporativo, onde a defesa de perímetro racha e como o Zero Trust sela essas brechas, além do playbook em camadas que a Asper usa para blindar endpoints e rede.
A falsa aura de segurança das VPNs “freemium”
O Túnel Cego: Como a VPN Pessoal Burla o Firewall Corporativo
Para entender a magnitude do risco, é preciso compreender o mecanismo técnico que torna as VPNs tão perigosas no ambiente corporativo.
Uma VPN funciona criando um “túnel” criptografado entre o dispositivo do usuário e um servidor remoto. Todo o tráfego de internet do dispositivo é encapsulado, criptografado e enviado através desse túnel. Para o usuário, isso significa privacidade e anonimato. Para a equipe de segurança da empresa, significa um ponto cego absoluto.
As defesas de perímetro tradicionais, como firewalls e proxies, são projetadas para inspecionar o tráfego que entra e sai da rede. Elas analisam pacotes de dados em busca de assinaturas de malware, bloqueiam o acesso a sites maliciosos e aplicam políticas de segurança.
No entanto, quando um colaborador ativa uma VPN não gerenciada em seu dispositivo, o firewall corporativo vê apenas uma única conexão criptografada com o servidor da VPN. Ele não consegue “olhar dentro” do túnel para ver quais sites estão sendo acessados, quais dados estão sendo transferidos ou se malwares estão sendo baixados.
Essencialmente, a VPN pessoal cria uma via expressa que contorna todo o aparato de segurança da empresa e este problema é exponencialmente agravado pela ascensão das políticas de Bring Your Own Device (BYOD).
Quando os colaboradores utilizam seus próprios notebooks e smartphones para tarefas de trabalho, a fronteira entre o ambiente pessoal e o corporativo se dissolve.
A instalação de uma VPN gratuita em um laptop pessoal que também acessa o e-mail corporativo, planilhas estratégicas e sistemas internos é um exemplo clássico de Shadow IT, o uso de hardware ou software não autorizado pela equipe de TI. Esse dispositivo se torna um endpoint não gerenciado, operando fora da visibilidade e do controle da segurança, criando um backdoor que ninguém está monitorando.
O que ocorre é uma completa inversão do modelo de segurança tradicional. A arquitetura de “castelo e fosso”, que investe milhões para proteger o perímetro e manter as ameaças do lado de fora, torna-se obsoleta.
A VPN iniciada por um usuário de dentro da rede cria um túnel seguro e criptografado de dentro para fora, conectando um ativo interno a um servidor externo, não confiável e não verificado. A ameaça não está mais tentando forçar a entrada no portão; ela está sendo escoltada para fora do pátio, usando os próprios recursos do castelo para se ocultar.
Fica evidente que a segurança não pode mais depender da localização na rede. Ela precisa seguir a identidade e os dados, onde quer que eles estejam.
Como o “túnel cego” burla o perímetro
Violação Direta da LGPD: O Risco da Transferência Internacional de Dados Sem Amparo Legal
O uso de uma VPN gratuita com servidores no exterior não é apenas uma falha de segurança; é uma grave responsabilidade legal.
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) do Brasil é explícita em sua regulamentação sobre a “transferência internacional de dados”, definida como a transferência de dados pessoais para um país estrangeiro ou organismo internacional.
O Artigo 33 da LGPD estabelece condições rigorosas para que essa transferência seja permitida. Ela só pode ocorrer se o país de destino proporcionar um “grau de proteção de dados pessoais adequado ao previsto nesta Lei” ou se o controlador dos dados oferecer e comprovar garantias de cumprimento dos princípios da LGPD, por meio de cláusulas contratuais específicas, consentimento explícito do titular, entre outras hipóteses restritas.
Ao utilizar uma VPN gratuita com servidores localizados na China — um país que não possui um acordo de adequação de proteção de dados com o Brasil e cujas leis de segurança nacional podem forçar empresas a compartilhar dados com o governo — a empresa está, de fato, realizando uma transferência internacional de dados sem o amparo legal necessário. Quando um colaborador acessa dados corporativos (que podem incluir informações de clientes, funcionários ou parceiros) através dessa VPN, a empresa se torna diretamente responsável pela violação.
As consequências são severas. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) pode aplicar multas de até 2% do faturamento da empresa, limitadas a R$ 50 milhões por infração, além de sanções como a publicização da infração e o bloqueio ou eliminação dos dados envolvidos. O dano reputacional decorrente de uma violação exposta publicamente pode ser ainda mais devastador do que a penalidade financeira.
Nesse cenário, o colaborador que instala a VPN se torna um “agente de não conformidade” involuntário.
O Encarregado de Proteção de Dados (DPO) e a equipe jurídica da empresa podem ter desenvolvido políticas de governança de dados meticulosas, mas um único aplicativo não monitorado pode invalidar todo esse trabalho. Isso demonstra que a conformidade com a LGPD não pode ser apenas um exercício teórico baseado em políticas; ela exige uma aplicação tecnológica robusta que controle o acesso e o uso de aplicações em tempo real.
A segurança e a conformidade legal estão intrinsecamente ligadas; uma falha em uma é, invariavelmente, uma falha na outra.
A Ameaça Oculta no Tráfego Criptografado: Malware, C2 e Exfiltração de Dados
Um túnel de VPN não gerenciado não é apenas um ponto cego; é um canal encoberto perfeito para a execução de ataques cibernéticos complexos. Atores de ameaças visam ativamente vulnerabilidades em softwares de VPN para obter acesso inicial às redes corporativas e estabelecer persistência. Uma vez que o túnel está ativo, ele pode ser usado para múltiplos fins maliciosos.
Primeiramente, ele serve como um vetor para a entrega de malware. Como o tráfego dentro do túnel é criptografado, sistemas de detecção de intrusão (IDS) e antivírus de perímetro são incapazes de inspecionar os pacotes em busca de cargas maliciosas. Um atacante pode usar o túnel para baixar ransomware, spyware ou outros implantes diretamente no dispositivo do colaborador, contornando as defesas da rede.
Mais perigoso ainda é o uso do túnel para Comando e Controle (C2). Técnicas avançadas como o Tunelamento de DNS permitem que os atacantes escondam a comunicação C2 dentro de consultas DNS aparentemente legítimas. Eles podem codificar dados e comandos em subdomínios ou registros DNS, criando um canal de comunicação furtivo que é extremamente difícil de detectar por ferramentas tradicionais.
A VPN, ao criptografar todo o tráfego, incluindo essas consultas DNS, fornece uma camada adicional de ofuscação para essas operações.
Finalmente, o túnel se torna a via ideal para a exfiltração de dados. Propriedade intelectual, segredos comerciais, listas de clientes, dados financeiros e credenciais podem ser silenciosamente extraídos da rede corporativa através do canal criptografado, sem disparar os alertas que uma transferência de dados em massa em canais não criptografados normalmente geraria.
Aqui, os atacantes exploram uma perversa ironia: eles transformam a “privacidade”, o principal argumento de venda da VPN, em uma arma. A criptografia, que deveria proteger o usuário, é cooptada para proteger o atacante. O
colaborador acredita estar protegendo sua navegação pessoal de olhares curiosos, mas, na realidade, está fornecendo um manto de invisibilidade para que um adversário ataque a organização. Uma postura de segurança madura, portanto, não pode confiar em protocolos ou aplicações apenas por suas promessas.
Cada conexão, cada fluxo de dados, deve ser examinado com base em seu contexto e comportamento, não em seu rótulo.
A Resposta Estratégica: Zero Trust Começa Dizendo “Não” ao Aplicativo Fora da Política
Se a ameaça contorna o perímetro, a única resposta lógica é abandonar o perímetro como principal linha de defesa. A segurança precisa ser redefinida em torno de um novo centro de gravidade: a identidade. É aqui que entra a arquitetura Zero Trust, um modelo formalizado por frameworks como o NIST SP 800-207, que se baseia em um princípio fundamental: “nunca confie, sempre verifique”.
Este modelo representa uma ruptura total com a abordagem de “castelo e fosso”, que confia implicitamente em qualquer usuário ou dispositivo uma vez que ele esteja dentro da rede. O Zero Trust assume que as ameaças podem existir tanto fora quanto dentro do perímetro e, portanto, exige uma verificação rigorosa para cada solicitação de acesso.
Seus pilares são:
- Verificação Contínua: A confiança não é um estado permanente concedido no login. Cada usuário e dispositivo deve ser continuamente autenticado e autorizado a cada nova sessão e solicitação de acesso.
- Princípio do Menor Privilégio: Os usuários recebem apenas o nível mínimo de acesso necessário para realizar suas tarefas. O acesso amplo e irrestrito é eliminado.
- Assumir a Violação: A arquitetura é projetada com a premissa de que uma violação já ocorreu ou ocorrerá. Isso leva a controles como a microssegmentação, que limita o movimento lateral de um atacante caso ele consiga comprometer um segmento da rede.
Aplicando isso ao problema da VPN gratuita, a eficácia do Zero Trust se torna clara. Em uma arquitetura Zero Trust, uma solicitação de conexão originada de um aplicativo não autorizado (a VPN gratuita) ou de um dispositivo que não atende às políticas de segurança (por exemplo, com sistema operacional desatualizado) seria bloqueada por padrão, independentemente de quem seja o usuário ou de quão corretas sejam suas credenciais.
A decisão de acesso não se baseia apenas na identidade do usuário, mas em um conjunto dinâmico de atributos de risco.
A eficácia dessa abordagem é comprovada por dados. Organizações que adotam o Zero Trust experimentam uma redução drástica no número de violações de dados e nos custos associados a incidentes de segurança.
A transição para o Zero Trust não é a compra de um único produto, mas a implementação de uma estratégia de segurança integrada. É uma mudança de filosofia que exige um parceiro capaz de orquestrar múltiplas camadas de defesa para construir uma arquitetura verdadeiramente resiliente, atuando como um “Trust Advisor”.
Blindagem em Camadas: A Abordagem Proativa da Asper para Conter o Risco Invisível
Enfrentar uma ameaça multifacetada como a das VPNs gratuitas exige uma defesa igualmente multifacetada. Não existe uma solução única.
A Asper constrói uma arquitetura Zero Trust na prática, aplicando camadas de controle que abordam o risco em cada etapa do ciclo de vida de um ataque: antes da instalação do software, durante a tentativa de conexão e na detecção de atividades anômalas.
1. Prevenção via Governança de Identidade (SailPoint)
A primeira e mais eficaz linha de defesa é impedir que o software não autorizado seja instalado. Isso é uma função central da Governança e Administração de Identidades (IGA), um pilar da segurança moderna. Soluções como o SailPoint, implementadas com a expertise da Asper, são projetadas para automatizar e governar todo o ciclo de vida das identidades e seus acessos.
A IGA aplica rigorosamente o princípio do menor privilégio. Na prática, isso significa que os usuários padrão não possuem direitos de administrador em seus dispositivos. Sem esses privilégios, eles simplesmente não conseguem instalar aplicações que não estejam em uma lista pré-aprovada (whitelisting) pela equipe de TI. Ao remover a capacidade técnica de instalar software não homologado, a IGA corta o problema do Shadow IT pela raiz. A Asper, com sua vasta experiência em projetos complexos de SailPoint, garante que as políticas de acesso sejam configuradas não apenas para cumprir regulamentações, mas para ativamente prevenir a introdução de riscos no ambiente. Esta é a camada de defesa proativa e preventiva.
2. Bloqueio por Contexto de Risco (CyberArk)
Se, por alguma falha de processo, uma VPN não autorizada for instalada, a próxima camada de defesa entra em ação no momento da tentativa de conexão. Aqui, o foco muda da prevenção para o bloqueio contextual em tempo real. A solução de MFA Adaptativo (Autenticação Multifator Adaptativa) da CyberArk é uma ferramenta de segurança inteligente e baseada em risco.
Diferente do MFA tradicional, que aplica o mesmo nível de verificação a todos os logins, o MFA Adaptativo analisa uma série de sinais contextuais para calcular uma “pontuação de risco” para cada tentativa de acesso.
Esses sinais incluem:
- Geolocalização: O usuário está tentando se conectar de um país ou cidade incomum?
- Postura do Dispositivo: O sistema operacional está atualizado? O antivírus está ativo? O dispositivo está em conformidade com as políticas de segurança?
- Padrões Comportamentais: Este é um horário normal de trabalho para este usuário? A velocidade de digitação é consistente com seu padrão?
- Reputação do IP: A conexão se origina de um endereço IP conhecido por atividades maliciosas?
Se a pontuação de risco ultrapassar um determinado limiar, o sistema pode reagir dinamicamente. Ele pode exigir uma forma mais forte de autenticação (como biometria), ou, em casos de alto risco, bloquear completamente a conexão. Isso acontece antes que o túnel da VPN seja estabelecido, neutralizando a ameaça no nascedouro. A parceria estratégica da Asper com a CyberArk garante que essa camada de defesa contextual seja integrada de forma inteligente à arquitetura de segurança do cliente, protegendo contra acessos privilegiados e identidades comprometidas.
3. Detecção e Resposta por Anomalia (Cyber Fusion Center)
A última camada de blindagem é a vigilância contínua e a capacidade de resposta a incidentes, fornecida 24/7 pelo Cyber Fusion Center (CFC) da Asper. Mesmo que um túnel malicioso consiga se estabelecer, ele não passará despercebido. Um SOC (Centro de Operações de Segurança) de nova geração, como o CFC, não depende apenas da inspeção de conteúdo, que é ineficaz contra tráfego criptografado. Em vez disso, ele se especializa na análise de metadados e padrões de comportamento.
Para detectar um túnel de VPN não autorizado, o CFC monitora de perto o tráfego de rede em busca de anomalias, especialmente no tráfego DNS e TLS. Indicadores de um possível túnel malicioso incluem:
- Anomalias de DNS: Um volume anormalmente alto de consultas DNS para um único domínio, o uso de tipos de registro incomuns (como TXT ou NULL para transportar dados), ou a presença de subdomínios longos e com aparência aleatória (sugestivos de dados codificados) são sinais clássicos de tunelamento de DNS.
- Análise de Tráfego TLS/SSL: Embora o conteúdo seja criptografado, a análise dos handshakes TLS, dos certificados e dos padrões de fluxo de dados (tamanho e frequência dos pacotes) pode revelar comportamentos atípicos que se desviam do tráfego legítimo.
Utilizando plataformas SIEM avançadas, inteligência de ameaças e algoritmos de machine learning, os analistas do CFC correlacionam esses sinais fracos para identificar com alta precisão a formação de um canal encoberto. Uma vez detectada a ameaça, o CFC pode acionar respostas automatizadas, como o bloqueio do endereço IP de destino do servidor da VPN ou o isolamento do endpoint comprometido da rede, contendo o incidente e impedindo a exfiltração de dados. Esta é a camada de segurança vigilante, detetive e responsiva.
Blindagem em Camadas: A Abordagem Proativa da Asper para Conter o Risco Invisível
Sua continuidade de negócio não pode depender da sorte
Ignorar o risco aparentemente “pequeno” de um aplicativo gratuito é uma aposta estratégica que nenhuma organização séria pode se dar ao luxo de fazer.
Os riscos são multifacetados e existenciais: brechas de segurança que expõem dados críticos, violações diretas da LGPD com pesadas multas financeiras e danos irreparáveis à reputação da marca. O cenário de ameaças moderno, impulsionado por tendências como BYOD, trabalho remoto e migração para a nuvem, tornou a segurança de perímetro tradicional uma relíquia insuficiente.
A proteção eficaz hoje exige uma abordagem proativa, inteligente e em camadas, fundamentada na filosofia Zero Trust. Não se trata de comprar mais uma ferramenta, mas de construir uma arquitetura de segurança resiliente, onde a confiança é continuamente conquistada, não implicitamente concedida.
VPN grátis + BYOD = risco existencial. A única saída é migrar de perímetro a identidades, aplicando o Zero Trust com governança, contexto de risco e monitoração contínua. O Cyber Fusion Center da Asper integra essas camadas, reduzindo pontos cegos e garantindo conformidade LGPD.
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